Arte e voz afro-brasileira: as representações da literatura de autoria negra são analisadas em novo livro
1 de fevereiro de 2023
Se hoje você tem a oportunidade de segurar em mãos um livro que investiga e celebra as produções artísticas e literárias da população afro-brasileira, é sinal de que nossa sociedade começa a romper com os silenciamentos historicamente perpetuados pelo racismo. A pesquisa documentada em “Literatura de autoria negra” faz parte dos esforços coletivos para alterar a forma como aprendemos, estudamos e ensinamos. Trata-se de um guia que conduz o leitor pelo longo percurso de elaboração de uma voz literária criada por pessoas negras, a fim de expressar sua poética, sua ficção, sua imaginação de outras realidades e sua denúncia sobre a realidade vivida. O livro, mais recente escrito da Dra. Silvia Barros, é uma publicação da Editora Intersaberes e será lançado no dia 20 de fevereiro, para todo o Brasil.
O desenvolvimento de um projeto educacional que valoriza a cultura africana e afro-brasileira a nível nacional registrou importante progresso com a Lei nº 10.639, publicada em 9 de janeiro de 2003. “É a lei que estabelece a inclusão do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em todos os estabelecimentos escolares públicos e privados do país. A aplicação da lei busca a valorização de uma das matrizes culturais do Brasil, destacando o protagonismo negro em várias áreas do conhecimento”, contextualiza Dra. Silvia Barros, que atua na educação básica e na especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais no Ensino Básico (Ererebá) do Colégio Pedro II (RJ).
Literatura brasileira e literatura africana em língua portuguesa
Para compreender as origens e as bases da literatura de autoria negra, é necessário estudar os sistemas linguísticos e culturais dos quais se originou a cultura afro-brasileira. Um estudo que não pode ser feito em desconexão das demais realidades com as quais o Brasil compartilha relação de identidade e alteridade – levando em conta os pontos de identificação, semelhança e espelhamento, bem como os pontos de divergência, conflito e distanciamento. “Apesar de haver muitas diferenças entre os processos de descolonização brasileiro e o das colônias portuguesas no continente africano, para nós, brasileiros e brasileiras, conhecer a literatura africana é ter acesso a aspectos em comum que nos ligam cultural e socialmente e às possibilidades de influência mútua”, pondera a autora.
Nas pesquisas em literatura brasileira, fica evidente a repetição de estereótipos na caracterização de personagens negros, especialmente dentro das obras de autores e autoras brancos. São procedimentos literários que ainda não ficaram no passado, e que continuarão sendo atualizados nas produções contemporâneas enquanto a conduta de rebaixamento e invisibilização de indivíduos negros – tantas vezes fantasiada de cordialidade racial – não for superada. “Há vários estereótipos relacionados às pessoas negras na literatura brasileira, como a figura da mãe preta, a mulher escravizada (posteriormente a empregada doméstica) que não possui família própria e vive em dedicação total a uma família branca. Essa imagem da mulher negra consolida ideias como a empregada que é ‘quase da família’”, comenta Dra. Barros, especialista em Literatura Brasileira. De acordo com a autora, “a literatura negra contesta papéis como esse ao trazer a perspectiva das personagens negras, fazendo ecoar sua própria voz”, e cita a personagem Suzana, do romance Úrsula (de Maria Firmina dos Reis, 1859), como exemplo.
O valor da literatura afro-brasileira
Um nó muito frequente nos estudos da literatura afro-brasileira diz respeito à relação entre tema e autor(a). Toda obra de autoria negra estaria fadada à militância, a temas da cultura afro ou à discussão do racismo? Existe, nesses escritos, uma potência dual: registrar as experiências coletivas de pessoas negras no Brasil; e também as vivências individuais resultantes dos atravessamentos de gênero, sexualidade e classe social. “A literatura brasileira de autoria negra contempla questões múltiplas, entre elas, a valorização da intelectualidade negra que se afirma como artista das palavras, algo que a mentalidade racista sempre negou à população afro-brasileira”, ressalta Dra. Silvia Barros. Processos como resgate da ancestralidade e afirmação da negritude fazem parte de um amplo espectro de questões abordadas nas obras de autoria negra.
Ao longo de seis capítulos, o livro “Literatura de autoria negra” amplia a perspectiva sobre a contribuição literária de negros e negras ao mundo – abordando a literatura afro-estadunidense, afro-brasileira, nas Américas e no Caribe, com recorte especial para a participação das mulheres na literatura negra. “O principal objetivo desta obra é oferecer um panorama da literatura produzida por pessoas negras, especialmente no Brasil, de forma a provocar o desejo pelo aprofundamento nessas leituras e nesses estudos”, convida a autora. A leitura é indicada a todas as pessoas interessadas por literatura, principalmente para estudantes de Letras e professores e professoras de Literatura da educação básica que buscam expandir o olhar e os conhecimentos.
Ficha técnica
Livro: Literatura de autoria negra
Autor: Sílvia Barros da Silva Freire
Número de páginas: 276
ISBN: 9786555170603
Formato: brochura
Dimensões: 1.4 × 14 × 21 cm
Preço: R$110,40
Editora: Intersaberes
Acesse mais informações sobre o livro “Literatura de autoria negra”
Sobre a Autora
Sílvia Barros da Silva Freire é formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É mestra e doutora em literatura brasileira pela mesma instituição. É professora do departamento de Português e Literaturas em Língua Portuguesa do Colégio Pedro II (Rio de Janeiro), no qual atua na educação básica e na especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais no Ensino Básico (Ererebá). É autora da obra “O belo trágico na literatura brasileira contemporânea”, fruto de sua pesquisa de doutorado, e de dois livros de poesia: “Em tempos de guerra” e “Poemas para meu corpo nu”.