Quando pensamos nos termos cidadania e infância, frequentemente consideramos a criança uma personagem absolutamente passiva, detentora de direitos e merecedora de proteção, amor e cuidados; por outro lado, raramente enxergamos esse mesmo indivíduo como um ser capaz de participar ativamente dos rumos da sociedade; como alguém com voz, pensamentos coerentes, desejos, anseios e demandas legítimas; como sujeito capaz de refletir, de propor e de efetivar seus direitos (Mesquita, 2022).  

Obviamente, essa realidade está mudando. Desde a criação da Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959, transitando pelo Pacto Social dos Direitos Civis e Políticos em 1976, pela Constituição Federal do Brasil em 1988, pela Convenção Universal dos Direitos da Criança em 1989, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, entre tantas outras iniciativas emancipatórias da cidadania infantil, o mundo se vê diante da urgência de responder à seguinte pergunta: como a criança pode exercer, de forma ampla, plena, significativa e responsável, a sua cidadania?

A palavra que responde a esse questionamento é educação. No contexto das obras do selo Primeiro Saberes, educação associada a valores e virtudes, fundamentos de uma sociedade justa, empática, integrada e consciente. E qual é a melhor maneira de incentivar nossas crianças a atuarem no mundo com base nos melhores conceitos consolidados na trajetória da humanidade do que trazer a literatura para a vida dos pequenos?

Essa é a ferramenta que o selo Primeiro Saberes deseja utilizar para criar um futuro mais harmonioso, pacífico, pautado na compreensão, na aceitação, explorando transversalmente temas profundos e fundamentais com histórias encantadoras por meio das quais as crianças poderão pensar sobre conquistas e perdas, características pessoais e únicas, meio ambiente, trajetórias de vida, anseios e medos, tudo cercado de aura de fantasia, fabulação e imaginação que é a chave para atrair não só novos leitores, mas novos cidadãos.

Nesse sentido, a literatura infantojuvenil é um convite para semear valores e virtudes nos pequenos, construindo alicerces morais sólidos desde cedo. Histórias que abordam respeito, solidariedade, honestidade e persistência não são apenas entretenimento; elas facilitam a inserção de conceitos éticos e morais de forma lúdica e acessível. Ao invés de didatismo explícito, as narrativas permitem que as crianças absorvam as “lições” por meio das experiências dos personagens, fortalecendo a inteligência moral e social. É um terreno comum para pais e escolas cultivarem princípios que inspiram superação e contribuição coletiva.

Mas como se organizam esses valores nas obras Primeiros Saberes? Nossas obras se fundamentam em quatro temáticas principais:

1. Valores e virtudes: A literatura infantojuvenil oferece o espaço para poderosas reflexões para a formação do indivíduo, convidando-o a cultivar o respeito às singularidades e a reconhecer a importância de superar a preguiça, valorizar o esforço e contribuir com o coletivo, entre muitas outras posturas éticas diante da vida individual e social.
2. Diversidade e Inclusão: A literatura inclusiva e diversa funciona como uma espécie de espelho por meio do qual elas podem pensar sobre suas próprias experiências e realidades; ao mesmo tempo, atua como um caleidoscópio, apresentando múltiplas perspectivas e vivências. É importante enfatizar que nossas obras exploram o conceito de diversidade e inclusão em profundidade, pois tratam de características físicas, cognitivas (como o autismo), culturais, raciais e sociais.
3. Ciências da Natureza e Educação Ambiental: Nossos livros estimulam as crianças a olharem tanto para dentro de si, como agentes de mudança, como para o mundo à sua volta, como espaço que demanda cuidado constante. É por meio do incentivo a posturas éticas sobre o meio ambiente que conseguiremos garantir o futuro das novas gerações.
4. Educação Socioemocional: As histórias do selo Primeiros Saberes que trabalham com essa temática visam a explorarem seus mundos emocionais, possibilitando uma compreensão mais profunda de seus afetos, como funcionam, quando se fazem presentes e como podem ser controlados de forma eficaz. O medo, a tristeza, a ansiedade, a raiva, a alegria, a frustração e a perda estão igualmente retratadas em nossas histórias; contudo, esse retrato é de encorajamento e de esperança diante dos conflitantes sentimentos que fazem parte da infância.

Alicerçado nesses quatro pilares, o selo Primeiros Saberes busca oferecer um espaço para que as crianças olhem para si, reconheçam o outro, respeitem o ambiente e reflitam sobre seus afetos. Mas o aprendizado não para por aí: as obras Primeiros Saberes versam sobre a esperança, estimulam a coragem, abrem portas para o diálogo e descortinam novos horizontes de debate. Não são esses os ingredientes para as crianças vivenciarem a cidadania?

Referências

MESQUITA, Delma Lúcia de. Cidadania desde a infância e educação para a democracia: da negação da fala à perspectiva de fortalecimento da voz da criança. Revista Brasileira de Educação, n. 27, jul./set. 2022. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbedu/a/NTccBByqp94d3FmCszMhSTj/?format=html&lang=pt>. Acesso em: 22 ago. 2025.